Um Café Caipira, Uma História Tostadinha no Coração

Peguei estrada com meu assistente Henrique, paisagem bonita rasgando a janela do carro, até chegarmos à tal fazenda.

Café Caipirão

Tudo começou com o cheiro bom de pão de queijo assando no forno da Mariana. Fui até a casa dela pra registrar um café da tarde especial, daqueles simples no gesto e imensos no afeto. A proposta era fazer fotos naturais, sem direção demais, só observando a beleza da rotina. Ela preparou o café, o pão de queijo dourado saiu fumegando, e eu fiquei ali, de olho e de lente. Um retrato da vida como ela é, com gosto de casa e aconchego.

Mariana se apaixonou pelas fotos. E como o café bom corre, ela logo me indicou para a irmã. Eu fui toda feliz, sem saber exatamente quem era. Só sabia que era pra fazer fotos na fazenda da família, no sul de Minas, onde produzem café vulcânico artesanal, entre eles o raríssimo e valiosíssimo Café Jacu, além do poético e poderoso Dona Onça.

Peguei estrada com meu assistente Henrique, paisagem bonita rasgando a janela do carro, até chegarmos à tal fazenda. Quem nos recebe? Luciana, a irmã da Mari. Só que tinha um detalhe. Nós já tínhamos estudado juntas. Vinte anos se passaram e ali estávamos nós, meio sem saber se era real. Ela não sabia que eu era a Maçã e eu só tinha uma leve suspeita pelas fotos. Foi um reencontro com gostinho de déjà vu e boas risadas.

Logo nos colocamos no compasso do café. Começamos fotografando a torra manual, comandada com precisão cirúrgica por Anderson, marido da Lu. Cada segundo era precioso. Um suspiro a mais e o grão já não era o mesmo. A torra é uma dança entre tempo, fogo e atenção.

Luciana, com mãos de artista e alma de artesã, montou as embalagens com um cuidado comovente. Me apresentou a lata do Dona Onça, linda de viver. Até brinquei com ela. Manda uma lá pro restaurante da Chef Janaína (Bar da Dona Onça em SP), vai que rola uma collab. Porque o nome já é forte, e o sabor, bom, o sabor é pura poesia líquida.

Seguimos para o terreiro, onde Anderson espalhou os grãos ao sol, e depois visitamos os pés de café, que estavam sendo panhados manualmente, pé por pé. Por ali também conversamos com o "Seu Capirão", o senhor Antônio, pai da Luciana. Homem de fala mansa e olhos de quem viu muita história.

Descemos de volta à casa para presenciar um processo curioso e quase alquímico. A fermentação do café com frutas. Os grãos recém colhidos foram colocados na água e só os que afundavam seguiam viagem. Depois iam para toneis, onde eram combinados com frutas frescas. Um método artesanal, intuitivo e cheio de personalidade.

Pra fechar, o clímax mineiro que todo coração agradece. Café passado na hora, com bolo e pão de queijo fresquinho. O grão moído ali, na nossa frente, água na temperatura certa, sem ferver. Tudo no mais puro ritual da simplicidade sofisticada. E o café que nos serviram? O Dona Onça. Um espetáculo. Eu, que já sou fã de cafés especiais, fiquei rendida. Sem precedentes.

Enquanto o café era preparado, a mãe da Lu se juntou à nós. Professora aposentada, cheia de causos e uma doçura no olhar. Aquelas conversas que não cabem em legenda, mas ficam gravadas no coração.

Que privilégio ter vivido isso. Obrigada, família, pela confiança, pela recepção e por me deixarem contar essa história. Uma história que mais do que sobre café, fala sobre gente, memória e conexão.